terça-feira, 18 de dezembro de 2007

Capítulo 10


Uma noite de cachorro


Fim de tarde, friozinho, todo mundo sem comer por conta do nervoso de se esperar a noiva do Dick, e por ver comida demais. Foi combinado com Haroldo, dele sumir na hora da chegada da noiva, ele é muito nervoso e atrapalha.
A noiva chegou a noitinha, entrou sem dar muita bola para o Dick, que ficou doido quando a viu, não latiu, e não se importou porque tinha gente junto. Só viu a noiva, e a cheirou sem parar, ela rosnou para ele, demos um tempo, indo para a sala de jantar, com mais espaço. Ele cheirava ela o tempo todo e ela... rosnava. Dava um chega pra lá de leve nele, e ele saia e voltava, saia e voltava...
Kitty, é gordinha, bem gordinha e parruda, não se parecendo nada com ele, que é um magrelão violento. Ela é doce, amorosa, carinhosa aos extremos, com gente. Beijou todos os estranhos, e quando Olívia sentou-se no chão, ela foi para o seu colo, beijá-la e se aninhar. Parecia uma gatinha, o Garfield do filme, tem o andar igual, lembrava realmente um gato, de tão melosa. Me lembrou a Lindona que era tão meiga. Heloisa contou como foi a sua luta para ela sobreviver e nos sugeriu uma experiência para ver se os dois iam se dar bem.
Adotamos, histéricas, tranquilizados pela promessa de que qualquer coisa, poderíamos devolvê-la para ela continuar tentando um adotante.
Tiramos uma foto para fazer parte de seu álbum de adotantes, e eu me senti fazendo alguma coisa de útil, ao ajudar o trabalho tão lindo de Heloisa. Ela nos trouxe um presente maravilhoso e eu agradeci emocionada.
Logo que ela saiu, o Dick começou a babar sem parar, uma hipersalivação, sem mais nem menos. Olívia o pegou e o levou para o meu quarto, limpou a baba e correu para ligar para a Raquel. Ele parou e voltou a lamber, e a cheirar a Kitty, que dava uns chega pra lá nele. Dei ossos de filhotes para eles, ela adorou, joguei uma manta de lã no chão e ela foi deitar por lá, com o seu osso, enquanto ele nem ligou para o osso, preocupado em cheirá-la.
Raquel tranquilizou Olívia, dizendo que a baba era porque ele havia se apaixonado. Olívia já muito nervosa começou a enjoar, os dois continuavam na mesma, ela se afastando dele e ele teimando em cheirá-la e lambê-la. Ele está apaixonado, por isso baba desesperadamente, reafirmava a Raquel, para mim também, por telefone. Achamos estranho, uma pena a Raquel não estar presente. Estava fazendo falta para nos acalmar. Desligamos e voltamos à vigília dos dois.
Ela acabou o osso e fez um cocô na sala, um cocozão enorme, era bem gordinha, e estava comendo quatro vezes ao dia, tínhamos que reduzir para duas refeições. Levei suas fezes para jogar na privada , no meu banheiro, e guardei um pedaço do jornal sujo para mostrar a ela, e ensinar o lugar certo. Dick de imediato ofereceu seu biscoito de xixi e cocô bonito, o biscoito Maria, que ele ganha quando acerta e foi no meu banheiro, no jornal e fez um xixi finalmente, já que não estava querendo trocar o banheiro do meio por este. Dei a ele um biscoito e ela correu para pegar o dele, ele deixou ela pegar o seu, e ainda ofereceu mais, contente.
Ela descobriu seu canto de brinquedos, no meu quarto e deitou lá, pegou um por um , todos os seus brinquedos, ficou brincando mas não deixou ele chegar perto. Pegou seu osso chiclete pelo meio, e rosnava sem parar para ele.
Ele olhava de cima da minha cama mantendo distância, ela veio para a cama, eu sentada, deitou ao meu lado depois de subir com dificuldade na cama, já que muito gordinha pesava, foi preciso dar várias barrigadas na beira da cama, até conseguir, mas subiu sozinha, e foi direto implicar com ele, que saiu da cama e foi para o canto dos brinquedos, ela saiu atrás, se esborrachando no chão, com os bracinhos abertos, e foi brigar com ele, ele saiu do quarto. Ela voltou para a cama e aproveitei para colocá-la para dormir, num cantinho, junto ao meu travesseiro, entre almofadas e mantas, ela dormiu em um segundo, muito dócil.
O Dick voltou, falei para ele que ela estava dormindo, ele deitou ao lado, num ninho que eu fiz para ele, dividido dela, por um almofadão grande e, dormiu abraçado comigo, que fiquei atravessada na cama servindo de segurança, entre os dois.
Ela acordava e rosnava para ele o tempo todo, isso, até que altas horas, ele saiu da cama e foi para o frio se refugiar debaixo da cama. Deitei no chão para chamá-lo. Ela dormia, ele ia para a cama, ela acordava e, ia implicar com ele, ameaçando morder, ele ia então, para o chão. Uma hora, ele foi para a sala do computador e só voltou para o quarto quando ela dormiu, pegou então, seu osso grandão, e foi para o quarto do Haroldo, na outra ponta da casa, era alta madrugada, e eu já estava exausta, de ficar botando ora um, ora outro, para dormir, e ainda tendo que ficar no meio, pois ela ameaçava uma briga feia. Segui o Dick indo para o quarto do Haroldo também, que a esta altura já estava acordado, muito nervoso. Nos refugiamos lá, fugindo da noiva, que dormia aninhada entre almofadas, tranquila, na minha cama, enquanto o Dick comia nervoso, seu osso chiclete, e Haroldo me atazanava dizendo, que não ia dar certo, que eu destruiria nossa rotina, e o Dick não daria mais atenção a ele, carente, reclamava sem parar, quando eu resolvi então desistir, resolvi pegar cobertores, e dormir com o Dick, no quarto do Haroldo, fechando a Kitty no meu. Pensando nisso, eis que aparece na sombra do corredor, parada à porta do quarto do Haroldo, a noiva, tinha vindo sozinha , atrás de mim e do Dick, que correu para a porta e na penumbra, Haroldo a viu pela primeira e única vez. Olívia levantou nervosa do seu quarto, estava passando mal, com dor de barriga, não havia comido nada, era nervoso. Eu a essa altura estava exausta, pedi então a ela , para dormir com a Kitty, que estava rejeitando o Dick e perseguindo-o pela casa, rosnando e tentando mordê-lo, pegando todas as suas coisas e ele deixando, ele se comportando como um lord apaixonado, tão gentil atrás dela, que não gostou dele, e ela ainda estava me lembrando a Lindona, quando rejeitou todos os namorados que escolhi para ela. Ela só queria seu lugar, suas coisas, seu amor, sua casa e expulsá-lo, constatei horrorizada com o meu pensamento. Descobri nesse momento então, que não poderia ter dois cães, ali naquela noite fria, muito cansada, tive certeza absoluta disso. Eu tive apenas uma filha única e cães, tive vários, mas todos solitários, um de cada vez. Não tinha estrutura para aguentar briga de irmãos, disputas, ciúmes, não sabia como agir e resolvi então desistir. É como ter filhos gêmeos, imagino, uma barra muito pesada, já que trato cães como crianças. Não era para mim.
Olívia aliviada com a minha desistência, ficou com a Kitty no seu quarto, dormiram o resto da noite felizes. E eu fui tentar descansar no que me restava de noite, fechei a porta do quarto da Olívia, e levei o Dick para o meu quarto, ele voltou para o hall do quarto da Olívia e chorou sem parar junto a porta, parecia saber da minha decisão. Seria um solitário. Amado apenas por gente e Haroldo para completar a noite disse: "O sonho acabou"
Não deu certo, ela não tinha gostado dele, como a Lindona, que recusava amizade com todos os cachorros, que não fosse o Encrenca que ela tinha escolhido. A fêmea é quem escolhe e são muito seletas, não são como galinhas, tem que flertar, namorar, e até cruzarem, é um sufoco. Essa não iria cruzar mas selecionava mesmo assim, a amizade. Não houve jeito. Engoli a minha frustração e consegui então junto com o Dick, dormir um pouquinho.
Ele depois de chorar um bocado, se resignou e esqueceu que ela estava na casa.
De manhã acordou como sempre dentro de sua rotina e foi encontrar o Haroldo que queria que eu acordasse ela, para levá-la ao quintal, que era onde ela estava acostumada a ir no banheiro, e ele me estimulou a acabar o quanto antes com aquela experiência dantesca, devolvendo-a. Liguei para Heloisa, que se preparava para ir ao Rio, levar um cachorrinho para uma feira de adoção e, aproveitaria para levá-la também, quem sabe alguém gostaria de adotá-la por lá. Ela é de salão, muito doce com gente, como a Lindona, não é para dividir amor, com dois cães em uma mesma casa, ela é típica para uma casa onde ela reinará absoluta. Ela adorou o conforto de uma cama de casal com almofadas e mantas de lã pura. Ela era de luxo. Como um bebê muito doce. Contratei um táxi para nos levar à casa da Heloisa, que está abrigando mais ou menos vinte cachorros, eles estão sendo preparados para adoção. Cheguei lá, e lá estava Heloisa com vários cachorrinhos pegando sol, e uma pretinha em seu colo, que fica pronta para adoção, na próxima semana (está no pós operatório da esterilização). É magrela de dois meses, achada com a irmã perto da catedral, em Petrópolis, era bem mais parecida com o Dick, o magrelão. Heloisa acha que com essa idade, dois meses, ela não rejeita outro cão. Não falei nada, mas já foi decidido, Haroldo e Olívia não me apoiaram e eu sozinha, não aguentei a barra. Encarei corajosamente o meu fracasso. Preciso reconhecer os meus limites, se fosse à algum tempo, eu iria encarar sozinha sem respeitar os meus limites, e depois adoeceria como sempre fiz. Já estou aceitando minhas limitações, deve ser a análise.
Dick será um lord solteirão, o mais amado, com uma vida digna de Rei. Irá acompanhar a levada cachorrinha da vizinha, que parece que se chama Fifi, um bassetzinho que ele adora espiar pela janela do quarto do Haroldo, como a Lindona espiava o Encreca, e será totalmente mimado, porque isso, eu sei fazer muito bem. Com alívio me parabenizei por aceitar essa experiência com sabedoria, ultrapassando o fracasso, pensei na frase do Woody Alenn: "Faça Deus rir, faça planos!" e fiquei pensando na pequenininha pretinha...

O Solteirão

Capítulo 9

A Noiva do Dick




Hora de arrumar uma noiva para o Dick, ele já está com seis meses, se demorar muito ele pode ter ciúmes. Raquel viu uns filhotinhos pequenininhos de vira-lata na faculdade dela, mas deixou pra lá, não sabia que eu já estava procurando à sério, comecei a pedir ao Haroldo para trazer para casa toda quinta feira o jornal Tribuna de Petrópolis, que tem nesse dia o cantinho de adoções, onde saem as fotos dos bichinhos disponiveis para adoção. Na internet procurava nas comunidades do orkut, que oferecem cães para adoção e ainda no site do gapaitaipava que foi onde me deparei, com uma cadelinha vestida para o frio Petropolitano, que foi encontrada junto com o irmão no terminal rodoviário, estava dentro de uma caixa de papelão. Já fora vacinada, vermifugada e esterilizada, apesar de ter apenas três meses de vida. Ela tem o focinho preto igual ao Dick. Me apaixonei e, nesse momento me veio os medos: será que ele, destrambelhado e arisco não vai morder e brigar? Já está com seis meses e não vê cachorro desde os dois meses de idade. Fiquei namorando a cachorrinha pela internet, mandei sua foto para várias pessoas como que fazendo uma enquete. A Kitty, é assim que ela se chama no seu nome provisório, pela internet, parecia muito pequenina, parecendo uma miniatura do Dick.
Haroldo com ciúmes do Dick que dorme comigo, disse que essa ia dormir com ele, mas ficou receoso com medo do Dick atacar, dele morder, ficou com muito medo de não dar certo, medos... medos... e medos! Cuidar de dois, não é fácil e começou a dar para trás. A Otília, minha empregada, disse que depois que a Samanta, sua cachorra foi esterilizada, não aceitou a companhia de mais nenhum cachorro, e ainda, que não pode nem passar perto de cachorro, quanto mais brincar e ter vida de cachorro.
O que eu procuro para o Dick é uma companheira para ele não se sentir solitário, não precisa cruzar, e ter onze filhotes eu ficando sem saber para quem dar. Raquel confirmava, é muito difícil dar filhotes, ela sendo esterilizada é melhor, e todos dizem que dois cachorros é bem melhor. Preparando para a chegada da noiva, resolvi mudar o banheiro do Dick, retirando-o do banheiro do meio para o meu banheiro que tem um espaço ideal. Nada de área externa, muito complicado para limpar e ainda ficando fechado à noite, com o frio que está apertado por aqui, ele sendo carioca e magrelão, é friorento, passeando rápido pela área externa , mas ficando mesmo por dentro da casa, no chão de madeira pinho de riga que com o sol fica quentinho, e ainda, é grande para ele a área interna, ele só sai para o quintal pela manhã para a sua batida matinal e vai para dentro pegar sol na varanda envidraçada onde bate sol o dia todo ao lado do computador, onde eu passo o dia. No quintal ele fica pouco, brincando sozinho a procura de bichos. Estou tentando ensiná-lo a mudar de baheiro, mas está sendo dificil, ele insiste em me mostrar que xixi bonito no meu banheiro é na privada, e não no jornal. Quem sabe com a noiva, os dois aprendem juntos o novo lugar, pensei otimista.
O gramadão já foi encomendado, e uma terrinha vai preparar o local vindo da casa do meu vizinho Eduardo, amigo do Haroldo desde criança, que tem um morro atrás da casa, eles se conhecem desde mil oitocentos e noventa e pouco, eu brinco, já que as famílias se conhecem desde então. O Dick e a noiva poderão correr no jardim e brincar pegando sol no gramadão do noivo, brinquei sonhando.
Está tudo sendo preparado para receber a companheira do Dick.
Raquel promete subir com Olívia no fim de semana do dia das mães. Vamos fazer uma comilança violenta, panquecada e rosbife, para as carnívoras, pois eu sou vegetariana e o Dick passa mal com as minhas sobras, ele vai adorar beliscar o rosbife das meninas.
Me encho de coragem aproveitando a oportunidade e, quando Olívia me pergunta o que eu quero de dia das mães, peço a Kitty de presente. Olívia então, fala com Haroldo que fica preocupado, "dois cachorros? E se nós morrermos?" ele já está com 62 anos, e eu com 48, nem penso nisso e corto esse medo. Olívia endossa, dizendo que assume os dois. Passado os medos, começa então a fazer planos para os dois, pensando em um novo nome, "que tal Bubu?" sugeriu Haroldo, não gostei, parece bumbum, e "Leia" sugeriu Olívia, também não gostei, sugeri só de boca, "Isa", já que a dona da casa que ela está abrigada, que salvou sua vida e cuida dela enquanto não consegue adoção, se chama Heloisa, e esse era também, o nome da mãe do Haroldo. Ainda sem nome, Olívia se comunica por e-mail com a Heloisa, do Gapa para sondar a adoção "ela está pronta, posso levar para vocês", nos comunica ela.
Coloco meus medos para ela, também por e-mail, ela me tranquiliza e promete "levo ela na sexta-feira do fim de semana do dia das mães" disse ela, achando bonito ser um presente do dia das mães. "Quem dera as mães terem essa idéia de pedir um bichinho de estimação adotado para eles terem um lar digno".
Raquel comunica que não vai poder subir à serra, sua mãe ia viajar, e não vai mais, ela então vai ter que almoçar com ela e ainda, está atolada com a faculdade, tendo aulas aos sábados.
As duas começaram esse negócio de adoções juntas, era uma pena, Olívia subiria sozinha para devorar a geladeira cheia, preparada para um fim de semana com várias pessoas além da Raquel e o namorado, Olívia tinha convidado também o Igor, outro amigo seu de infância para subir e dar palpites no jardim, poi ele entende disso. Todos furaram, ninguém pode vir nesse fim de semana e os bolinhos de chuva, bolo de fubá com côco, cuca de banana, pãezinhos de leite, geléia de maçã, patês, chocolate quente, limonada suiça, doce de leite da Raquel, canjica, arroz com creme de espinafre, panquecas de espinafre com queijo e de carne, bolinhos de espinafre, salada de batata e rosbife, toda essa comilança lotava a cozinha para felicidade do Dick que adorou o rosbife.
Olívia combinou de ligar para a Heloisa que traria a noiva do Dick para uma experiência assim que chegasse. Tudo combinado para o final da tarde. Eu estava cansada, ansiosa e temerosa, meus medos deles se estranharem ainda persistia. No e-mail que mandei para ela de manhã, enviei ainda fotos do Dick para ela ver o tamanho dele, tinha medo dela crescer muito, e expliquei que seria um cachorrinho para dentro de casa, e que ela provavemente dormiria na cama também, seriam dois. Na realidade quem cuida sou eu e provavelmente seriam dois na minha cama. Ela disse que queriam adotá-la, mas para deixar no quintal, então ela não quis, disse ainda que ela era muito meiga e doce, "de salão" pensei, tipo a Lindona. Olívia ligou para ela assim que chegou e começamos a aguardar a chegada da noiva com impaciência, enquanto uma noite fria e seca começou a cobrir a ensolarada tarde.




A noiva do Dick

domingo, 16 de dezembro de 2007

Capítulo 8



O Lord Inglês




Foi estabelecida uma rotina. Dick acorda às seis e trinta da manhã, brinca um pouco checando cada brinquedo, depois corre para a parte da casa do Haroldo, invadindo seu quarto e pulando em sua cama para beijá-lo e acordá-lo com suas lambidas, vai então ao banheiro, depois volta para o meu quarto me acordando agora (antes não me acordava) e vai tomar café da manhã com o Haroldo, dá uma batida no quintal e sobe lá para cima no terraço, voltando para o meu quarto onde brinca mais um pouco se recuperando do frio entrando debaixo da minha coberta. Eu levanto e ele vai para o seu posto de segurança na janela da sala do computador ver se o sol já chegou. Toma então seu banho de sol dando uma dormidinha. Ele brinca sozinho e vive atrás de mim como uma sombra.
Tem medo de gente e mais ainda de gente grande, se apavora, se esconde e late o tempo todo. Outro dia dei um almoço onde ele se escondeu o tempo todo, medroso passou o dia fugindo, indo para o outro lado da casa onde não tinha gente.
Apareceu em seu rostinho uma feridinha e não ficava boa, então chamamos o veterinário, que ele morreu de medo, claro, tremia de medo, abraçado ao Haroldo no sofá da sala. O veterinário olhava para ele de longe, e foi chegando aos poucos perto dele para conhecê-lo. "Deve ter sido a roseira que tem ainda um fungo, ou foi alguma picada de bicho no jardim", ele ficou impressionado de como ele é medroso, recebendo visitas. Passou uma pomadinha, crema 6A, para passar duas vezes por dia no local do machucado, na bochecha, local bom, afinal ele não alcançava ali e não lambia, mas o problema é que ele não para quieto e é tarefa impossível passar alguma coisa nele com ele acordado, resultado passei a colocar o creminho, no cochilo da manhã e no do final da tarde, ele, desconfiado cheirava a minha mão e passou a me vigiar sabendo que eu tinha passado alguma coisa nele, vigiou, vigiou, até que um dia, pegou a pomada que eu tinha colocado no baú ao lado da cama com caixa e tudo, e levou para o meu quarto destruindo primeiro a embalagem, a tampa e, quando ia chegar no creme, eu entrei e arranquei dele na hora exata ao ataque principal.
Por conta disso Haroldo mandou arrancar tudo do jardim, todas as roseiras e todo o resto, para fazer um gramado e depois plantarmos plantas selecionadas nas bordas. Eu queria plantar Hortências junto a cerquinha baixinha, mas descobri que é venenosa para gatos, se é para gatos, deve ser para cachorros, na dúvida foi vetada. Nada de Hortências, Haroldo resolveu plantar grama, até numa floreira da janela, já que rato de cidade, ficou louco quando viu o mato crescer rápido nos pedriscos e por toda a parte.
O jardineiro virou o ídolo do Dick, ele o chama de neném, como eu, e ele adora ficar na janela olhando ele trabalhar no jardim da frente da rua, local para onde ele adora escapar , e nós quase não deixamos ele entrar ali por causa das roseiras que haviam lá, é onde vai entrar o gramado para ele. Já está todo pelado o jardim, e deixei ele ir até lá, logo depois da limpeza, ele correu e fez um buracão na terra. Haroldo ficou furioso, acha que ele vai acabar com o gramado.
Na jardineira do quintal, ele agora sapateia por inteiro abrindo buracos com seu narigão, já que foi-se sua pimenteira e sua roseira. Achou um grilo e uma lagarta no dia da limpeza, latiu para eles, mas não os abocanhou, eu acho, porque ele latia afastado, até eu retirar os bichos do seu quintal. Deve ter aprendido depois do episódio onde uma formiga gigante que ele abocanhou ficou agarrada na sua língua sem que ele conseguisse arrancá-la, eu tendo que retirá-la de sua língua, enfiando a mão em sua boca e agarrando-a, pois ela estava com o ferrão fixado na língua dele. Isso aconteceu duas vezes e acho que ele aprendeu a não abocanhar tudo que é bicho que vê.
Está dengoso demais, quem te viu e quem te vê, nem parece o mesmo, tão arisco, está magrelão, comprido e dengoso, continua a chorar quando Haroldo sai e ele cisma de marcar hora para ele voltar começando a choradeira uma hora antes do real retorno.
Fui na rua Tereza , rua de malharias com Olívia outro dia e ele ficou com Haroldo. Começou a chorar, depois grudou no Haroldo, dormindo com a cabeça em seu colo, na sua cama, debaixo do cobertor. Quando fui ao Rio de novo, ele ficou mais calmo, já está sabendo que as pessoas saem e voltam e eu também, que quase não saio e ele é mais agarrado.
Quando Olívia chega ele fica doido, dá saltos altíssimos nos preocupando, pois ameaça saltar o portãozinho baixinho da varanda, impaciente. Quando Olívia conversou comigo pelo computador, msn, com vídeo e áudio, ele ficou procurando por ela na janela, corria para a porta de entrada esmurrando a porta e quando ela foi embora para o Rio, eu disse a ele que ela tinha ido para a casa dela, ele então pegou a coleira que usou somente uma vez quando veio do Rio e foi para o quarto da Olívia. Parecia saber quão distante é a casa dela e que para chegar lá , tem que usar coleira, viajar de carro, parecia relembrar sua vinda para cá.
Conheci o apartamentinho da Olívia nessa ida ao rio, "bunitinho", adorei a cozinha mínima toda moderna. Ela pintou de lilás os portais e portas, ficou uma graça. Está ainda montando, falta mesas e outras coisinhas. O local é ótimo, bem central e seus amigos não saem de lá, não vai sentir solidão, tem sempre gente passando por ali para uma visita. Ela está adorando, é a cara dela, foi muito bem escolhido. Muito claro com uma vista aberta. É pequenininho o apartamento, mas têm-se a sensação de algo amplo devido a vista aberta, batendo muito sol.
Sai para comprar roupas de frio na rua Tereza, porque por aqui o frio já chegou, baixa um ruço no fim da tarde ensolarada, cai uma chuvinha fina e o termômetro cai rapidamente, precisamos ser ágeis na troca de roupa para a de frio instantâneo; nesse dia que sai, encontrei aqueles cachorrinhos da matilha, correndo, subindo uma ladeira de acesso a rua Tereza, onde tem casas de uma comunidade carente, eles corriam felizes com uma criança daquela comunidade. Não são abandonados, pensei, são da comunidade carente e fiquei aliviada.
Estou preparando este texto como um blog, além de livro, queria fazer um site incluindo links de uns trinta lugares que fazem programas sociais para melhorar a situação dos animais de rua em todo o Brasil, com adoções de castração, coisa de pais de primeiro mundo, onde não recolhem e matam os animais de rua e sim usam essa política de trabalho árduo para esterilizar as fêmeas, e conseguir adoção. Mas o site não foi possível, então eu fiz sozinha o blog mesmo, quem quiser ajudar pode procurar na internet que é fácil de achar um lugar para ajudar de alguma maneira. Passei ainda para a Raquel o comunicado da comunidade do Orkut, da "sos vira-latas", que está renovando a diretoria e pode ser qualquer um que ame animais a fazer parte do grupo. Encaminhei o comunicado para a Raquel, que teve que recusar por conta da super carga horária, na faculdade de veterinária no Rio, com aulas até aos sábados. Ela adorou o trabalho do Gapa, que ela viu no site, e pensa em ter essa experiência de trabalhar com ong quando se formar em veterinária.
Eu queria poder ajudar, minha casa é no centro da cidade, e tem o espaço do terraço fechado com um quartinho lá em cima, e ainda, dois quartinhos em baixo com uma cozinha e o quintal com saída independente, tudo espaço ocioso, porque não comecei a dar aulas e não estou no momento, com vontade para isso. Queria ajudar esses grupos, mas, ao vivo e a cores, eu não tenho estrutura emocional para encarar a barra pesada dos voluntários, então fico só admirando pelos sites destas instituições, o belíssimo trabalho que elas fazem e, escrevo, é a minha forma de ajudar, colocando o diário no ar, para divulgar um pouco mais o trabalho deles, motivando as pessoas a adotarem com responsabilidade e não comprarem bichinhos de estimação. Escrevo e penso na minha segunda adoção, uma companheira para o Dick, antes que ele adquira ciúmes, por ser muito agarrado, filho único, com a rotina de um inglês, já estabelecida como um lord metódico, tendo vida de gente e não de cachorro, tenho que agir rápido senão ele pode acabar igual a Lindona, que não sabia que era cachorro. Talvez seja hora de entrar em nossas vidas a companheira de vida dele, para ele ser um cachorrinho com vida de cão plena.


Posto de segurança

Capítulo 7

Cidade Nova - Casa Nova


Escrevendo em uma página em branco




Demora três meses se apaixonar por um bichinho de estimação e, isso de má vontade, por conta da morte da Lindona. Dá para minutar quanto tempo o amor demora para acontecer. É infalível. Estou completamanete apegada a esse serzinho que ainda morde pra valer, mas tenta me mostrar que é só brincadeira, pegando minha mão de leve para arrastar para qualquer lugar, como as mães que transportam filhotes segurando com a boca pela nuca sem machucar.
Ele agora, também confia inteiramente em mim, dorme comigo aninhado nas minhas pernas,vigiando a porta, não me acorda, espera eu acordar fazendo sua bagunça costumeira com seus ossos e brinquedos no chão e na cama, para se lançar sobre a minha pessoa e me pegar pelas mãos debaixo de lambidas, e de beijos de bom dia, ele também está apaixonado. Estamos vivendo um idílio amoroso que tenho que tomar cuidado para não gerar medos.
Outro dia ele comeu uma planta tóxica e ficou por um tempo com problemas neurológicos, tremia e andava cambaleando fazendo xixi nele mesmo, vomitou um pouco e eu dei então uma clara de ovo para ele beber que é antídoto contra envenenamento e ele gostou muito, ao contrário da Lindona que cuspia na minha cara qualquer tipo de coisa que eu lhe dava com a seringa direto na boca, ele dormiu e acordou normal, mas foi um susto. Ele come o que pintar, minhocas que ele cava na jardineira, frutos de um cacto grande que estava na casa, galhos, plantas em geral e qualquer porcaria que encontre, é um perigo. Destruiu minha sandália e comeu os pedacinhos.
Dizem que cachorro escolhe que mato comer, sei não, esse come de tudo. Vou mandar limpar o jardim e selecionar plantas, Haroldo, exagerado, já queria arrancar tudo, as roseiras ele tem horror por causa dos espinhos, e dos coelhos loucos do Dick em sua base. Ele é um caçador, já mostrava isso se entocando atrás de sofás e debaixo de móveis baixíssimos, no apartamento da Lagoa no Rio. Ele caçou uma barata e levou para a minha cama igual a lagartixa e até minhocas, que ele desentoca na terra jogando a terra da jardineira no quintal, fazendo uma sujeira absurda e ficando todo sujo arrastando para a minha cama o que encontra pela frente. Ainda bem que só tem esses bichos pequenos na casa, a cama é minha e dele, por isso ele carrega tudo para lá. Acho que vou ter que arrumar uma cama para ele somente. Ele apareceu ainda com uma picada de bicho na bochecha, fiquei com medo de ser alguma cobra, mas deve ter sido algum espinho da roseira. Passei sabonete de enxofre no local.
Vou deixar só canteiros no contorno do jardim com plantas selecionadas que não façam mal, mas as roseiras dá pena, tem várias e são lindas. Fico cheia de medos nessa casa super segura, bem no centro histórico da cidade e para me retirar o medo e me sacudir, a realidade passa travestida de cães de rua, são muitos por aqui.
Outro dia uma matilha de cinco filhotes passou na minha calçada andando em fila um dando segurança para o outro, pequeninos, sabidos, já tinha visto eles passarem separados, agora voltavam juntos, me deu vontade de seguí-los para ver aonde iam, devem ficar em algum lugar, afinal existem, comem, dormem...mas achei loucura seguí-los e ainda, o príncipe não fica um minuto sozinho que faz um escândalo.
Fui ao Rio outro dia, fiquei uma hora e voltei, ele ficou chorando muito com a Olívia que estava aqui por sorte.
Haroldo sai quase todos os dias em busca de um bar na cidade carregando sua caneca e gelo, por que ele só toma cerveja com gelo, sai buscando um bar com gente como ele na cidade, coisa difícil, moramos no centro onde o pobre e o rico se misturam, o que diferencia a frequência dos lugares é o preço, na mesma rua um bar cobra a metade do preço do outro para selecionar a freguesia, ainda, o pobre, passa escutando música funk e o rico, música sertaneja. Mas Haroldo busca um lugar, fazedor de points como o Baixo Leblon, Baixo Gávea e o Baixo Jardim Botânico, não vai descansar até achar um lugar para bebericar e encontrar gente como ele para bater papo.
Ele costuma sair e voltar da sua busca sempre no mesmo horário, o Dick, que não é bobo, já se habituou a rotina dele, na hora aproximada dele chegar, ele começa uma choradeira na porta da varanda, como um despertador, faz gritaria na hora certa e ainda, fica arteiro; tenta se jogar pela janela, tenta me morder, fica vigiando da janela brigando com qualquer um que se sente na beira da cerquinha, quer todo mundo circulando, a casa está sob a guarda dele, e ele fica super ansioso. Quando Haroldo chega assuviando, ele finalmente se acalma, virando um santo, pega seu osso e deita na cama feliz, depois de muitos beijos. Faz o papel de guardião muito bem. Um pouco destrambelhado, mas é o jeito dele com seus cinco meses, ainda muito pequenininho mas já um vigia nato como demosntrou no abrigo sendo o único acordado. Falando em abrigo, Raquel comunicou que o pretinho fora adotado na mesma semana e outros novos lotam o lugar, é essa a triste realidade. Adotei um que já virou um rapaz de família, um barão, amado e bem tratado, ganhou da Olívia em sua última visita uma coleira azul igual a cor das janelas da casa, foi a única que deu, das três que ela trouxe, ele a usa com um pingente da veterinária, com nome e telefone para o caso de fuga, vive com ela, ficou muito bonito com a sua coleira, e está grande, forte, sagaz enquanto tantos outros Dicks, vira-latas comuns estão soltos nas ruas ou presos em abrigos, sem amor, com um destino terrível, logo esses seres, que nascem para nos ensinar a amar. É o mundo, mas podemos ajudar a melhorar.


Meu orelhão cresceu primeiro

sábado, 15 de dezembro de 2007

Capítulo 6

Tirando a Vaca - Dick Felicidade



A alvorada foi cedo no dia da mudança, os homens ficaram de chegar por volta das 6.30 hs. da manhã. O Dick na véspera juntou toda sua tralha e colocou na caixinha que eu separei para ele quando ele chegou como uma caminha, caixa toda destroçada por ele, lembrando uma cadeira de balanço, parecia adivinhar a mudança arrumando suas coisas. A mudança começou e a Júlia e a Laura vieram buscar ele com Olívia e Raquel que havia dormido aqui para irem juntos para Petrópolis por volta das dez da manhã; vestido com a coleira da Lindona de corpinho ele partiu de carro com as meninas, da outra vez que ele entrou no carro da Júlia foi quando elas trouxeram ele do abrigo.Raquel trouxe uma cortina de banheiro que comprara para forrar o carro para o caso de alguma eventualidade.Olívia nervosa começou a enjoar pensando no possível enjôo do Dick subindo a serra e vomitou um pouco, o Dick imitou com uma vomitada rápida.Talvez um pernil da véspera comprado no bar. Passaram na farmácia para comprar Buscopam, Plazil,Floratil, um arsenal contra os seus enjôos psicológicos, ela havia ainda , virado a noite.
Dick se comportou muito bem em toda viagem, dormiu no balanço do carro com aquele barulhinho de viagem e só acordou em Petrópolis,um príncipe. Elas até estranharam, ele ficou sério e comportado na chegada a casa.Cheguei por volta das 16.30hs em petrópolis e, o encontrei quietinho. Fui de taxi com Haroldo assim que carregaram a mudança na Lagoa, a mudança só apareceu as 20.00hs em Petrópolis. Os homens exaustos foram almoçar e descansar já que no Rio eles trabalharam até as 15.00hs, três da tarde, na mudança que começou por volta das seis e meia com dois lances de escada e caixas de livros que não acabavam, além dos móveis pesados como o piano. Cheguei depois de uma chuvinha na estrada, a tardinha encontrando o Dick que virou outro quando me viu, voltou a morder, "é comigo a coisa, ele acha que eu sou dele", correu pela casa e fez finalmente xixi na copa, coisa que já estava deixando todo mundo preocupado já que, ele passou toda a viagem e o tempo até eu chegar, sem ir no banheiro, quieto, jururu. Foi alegria completa me ver chegando trazendo os seus brinquedos, ele havia mudado.
A mudança durou 24 hs, os homens às quatro horas da manhã estavam terminando de montar os móveis centenários pesadíssimos da casa, que estavam voltando para os seus lugares depois de quatorze anos. Quando eles saíram da casa em 1992, foi feita uma mudança em dois dias, desta vez os homens preferiram assim e nós também, mas não sabíamos que ia cansar tanto, uma loucura.
Escolhi o banheiro do meio para transferir a educação sanitária do Dick, ele vai no banheiro a noite e a área externa é fechada a noite, levei o saco de biscoitos Maria para um cabideiro no hall ao lado da porta deste banheiro, coloquei jornal, falei em xixi bonito e, ele respondeu no ato, antes atacou alguns locais com caixas e livros afinal é tudo papel e ele não pode ver nenhum pedacinho de papel no chão que mira em cima e faz um xixi bonito. Muito sabido. Depois transfiro esse jornal para um local melhor já que esse é o banheiro que a princípio todos vão tomar banho, com o aquecimento geral da casa desligado, é o único que tem chuveiro elétrico e, é ainda o banheiro central na frente do quarto de hóspedes entre as duas salas, o resto é dentro dos quartos ou muito longe na parte dos fundos da casa. Raquel ficou com Olívia alguns dias para ajudar a arrumar a casa, estamos tirando a vaca. Depois, Olívia vai ficar nômade até seu apartamento de solteira que finalmente comprou no Jardim Botânico tendo uma vista incrível para o Cristo, na mesma rua que ela nasceu, vagar. Vai ficar hospedada na casa de vários amigos, além de Petrópolis, pulando para lá e para cá, os amigos disputam para hospedá-la e, ela está achando um divertimento essa vida sem lar. Falando nisso, Petrópolis é uma cidade onde se vê muito cachorro de rua, fico no computador posicionado na frente da janela que dá para a rua, na varanda envidraçada, vendo o movimento da rua e, vi passar uma dupla de cachorros, um bonitão, branco, grande com um vira-lata parecendo o Dick, outro dia, um preto e, ainda outros dois atravessando a rua movimentada com maestria. Penso no Dick abandonado, na fome que estes cachorros passam, sem falar no frio do inverno. Descobri mais uma entidade de ajuda a animais no Orkut, chamada de "sos vira-latas", que ajudam esses bichinhos abandonados, aqui em Petrópolis. Falei com o Gapa para colocar este livro on-line para estimular adoções e outras ajudas para que as pessoas sintam a transformação na vida da gente que uma adoção destas pode causar. O Gapa tem umas camisetas escritas" Amor não tem pedigree" que eu estou querendo comprar assim que tiver velox de novo depois do carnaval.
A mudança com o Dick é outra coisa, ele movimenta a casa e virou o Dick felicidade quando descobriu o quintal e o jardim, além do salão lá em cima. Subiu com medo, agachadinho, a escadaria que vai dar no salão no segundo andar, depois correu para uma única jardineira sobrevivente aos aluguéis da casa, com um pé de roseira e outro de pimenteira. Ficou louco, virou alegria pulando na jardineira do quintal e cavando vários buracos, mostrei a ele o jardim, correu como um coelho louco com as orelhas para trás em grande velocidade, arrastou uma folha caída, pegou uma pedra e levou para a "nossa" cama, onde leva tudo que rouba pela casa, ou acha. Levou outro dia uma lagartixa morta que eu achei que era uma pimenta, quando descobri fiz um escândalo. Sem adiantar. Não me obedece e acha que tudo é brincadeira. Agora com quatro meses, já está mais amoroso, dorme comigo na minha cama e ninguém pode chegar perto do quarto sem ele rosnar, está muito agarrado comigo, Haroldo não aguenta a bagunça dele e briga mais com ele. É quem dá limites e ele obedece, comigo que é um inferno, e isso de dar com o jornal nele, ele arranca e, destroça o jornal na minha mão, mas acabo educando esse rapaz. Ele visita Haroldo por volta das seis horas da manhã todos os dias,dando beijos, não se esqueceu que era ele que ficava com ele quando acordava, quando tinha dois meses, depois ele volta para a minha cama esperando Haroldo fazer o café da manhã. Quando ele coloca o queijo na mesa lá vai ele com sua fome de indigente pedir alguns pedaços ameaçando subir no colo. Quando acordo ele pede para abrir a janela envidraçada, seu posto de segurança, já que ele sobe na cama sofá e fica debruçado na janela vendo a rua, o portão de entrada da casa e, um portãozinho que divide o jardim do quintal, depois vai me pedir sentando enfrente a porta do quintal para a copa, para abrir esta porta que dá para o quintal, pula na sua jardineira e corre de alegria para o segundo andar, é impressionante a alegria, late do seu posto de segurança e os cachorros das casas vizinhas respondem. Vai ser um bom guardião quando crescer, outro dia a empregada que ganhou a chave do cadeado do portão para entrar e só depois tocar a campanhia abriu o portão e, ele começou a latir, no dia seguinte também, ele já aprendeu que passando do portão é território dele. Quem chega e escuta ele latindo acha que é um cachorrão enorme preso dentro de casa, tem eco e ele adora o pé direito alto que faz eco.
Descobri que em Petrópolis, tem doença do carrapato, descobri isso vendo a tv local quando apareceu um carrapato no meu queixo, já que ele levou uma aplicação de frontline aos dois meses e dura uns três meses o efeito contra pulgas e carrapatos. Essa coisa de ser dono da jardineira é complicado, ele sapateia na terra, cava buracos, depois volta com o nariz sujo de terra, sem falar das patinhas, tenho que dar uma limpeza rápida entrando com ele atrás de mim no box na hora que eu tomo banho, mas o uso de colcha pesada na cama é fundamental além de limpar paredes e sofás dos carimbos das suas patinhas. Adora pedra que desenterra, como um tesouro, lá vem ele trazendo-a na boca e cospe em cima da minha cama radiante de felicidade tudo que acha.
Haroldo mandou botar tela de viveiro em toda a cerquinha da casa que é baixa, muito antiga de madeirinha e, ele ficana tela da varanda fazendo sucesso olhando o trânsito que cresceu muito, e agora é grande na rua, tem até engarrafamento e, da varanda eu posso mexer na cabeça das pessoas que passam na rua esticando o braço no parapeito da varanda que é bem no meio da rua, e a telinha deu segurança para o Dick, mas como a Ximbica um cachorro que havia sido recolhido na rua e passou a morar aqui na década de 80 vivia fugindo e como era de rua, safa, fugia e voltava, o que não é o caso dele, ele vai usar coleira em casa e Olívia comprou três para ele experimentar, vai ter que ficar com ela no pescoço com nome, endereço e telefone, mostrando que é de família, mimado, come duas vezes por dia um pratinho de ração e Haroldo prepara todo dia para ele um pratinho de arroz, beterraba e cenoura crua com fígado que ele adora. Está forte, pesado, com muita força, pequeno ainda, mas eu não consigo segurar ele para tomar banho, Olívia vai ajudar porque comigo ele sai correndo ensaboado pela casa, fugindo. Na vacinação foi uma loucura, é um escandaloso nato e, não para quieto, Haroldo teve que segurar com força ele esperneando e gritando antes de tomar a vacina só porque não queria ficar quieto imobilizado.
Chegamos em casa e ele gostou da casa, que é grande para ele e, penso em um companheiro ou uma companheira para fazer companhia para ele. Ainda não fomos ao sótão em obras muito perigoso, mantenho trancado. Ele só vai subir lá depois da obra terminada, no resto da casa ele reina absoluto, cuida de todos os cantinhos.




Dia da mudança

quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

Álbum de Bebê 1


Que olhar!

Saindo da Toca

Secretário de segurança

Aprendendo a subir na cama

Na bagunça

Destruindo garrafinhas

O Entocado

No veludo destruindo

Rondando

Pequenininho

Controle total

Posando

Indigente

Meigo

Ossinho de nenem 1

Ossinho de nenem 2

A garrafinha parece um garrafão

Com osso na boca





Bunitinho

Capítulo 5

Está Tudo Dominado

Aprendendo a Amar




Dick não beija, dá narigada, está aprendendo a amar. Ele veio de um abandono. Não se sabe quem foi seu pai ou sua mãe, se teve gente que amava e cuidava de sua ninhada. Fora abandonado num abrigo de cães ou fora recolhido na rua com seu irmão. Só o que se sabe, é que ele tinha um irmão, que foi adotado no mesmo momento que ele por uma menina. Sobrara o pretinho gordinho que ficara dormindo, preocupa-se Haroldo, querendo adotar o pretinho também. Raquel e Olívia cortam, depois da adaptação na casa de vocês a gente vê o companheiro para o Dick.
Eu tirei você da lama, repete para o Dick, Haroldo se divertindo levando fotos dele para o bar para mostrar a todos. Anda com uma foto na carteira e o chama de secretário de segurança, coisa que ele ainda não trata, quando chega gente ele se esconde debaixo de um móvel e late com voz grossa, só aparece bem depois, as vezes f ica entocado enquanto durar a visita.
Dick está aprendendo a amar e confiar na gente. Sua nova ninhada. Não sabia amar, é arredio, ao contrário da Lindona que viera de um apartamento no Humaitá, uma ninhada cuidada e amada, já veio mimada, desde o primeiro momento, mãe e dona cuidando de tudo, seus primeiros dentinhos chegaram com garantia de ossos de Pet Shop. Tinha vários.
Dick morde a gente e a tudo com seus novos dentinhos. No inferno do verão no Rio de janeiro, véspera da mudança o apartamento está como uma favela, acumula sacos de lixo preto com roupas embaladas e louças esperando no meio de caixas de papelão para serem guardadas, em campo minado com xixi e cocô que ele faz enquanto aprende a ir no banheiro ganhar biscoito, ele insiste em marcar o território primeiro para depois aprender. Passamos a andar no meio deste inferno alegre com um jornal na mão para fazer barulho e ensinar ele a não morder, problema maior. Biscoitinhos de maisena para premiar cocô e xixi no banheiro, feito em jornais e ainda potes de água espalhados por vários cômodos da casa acrescidos de revistas rasgadas que ele deu para pegar nas primeiras prateleiras de estantes, isopor e sacos plásticos do puxa saco da cozinha se espalham pelo chão num divertimento de abocanhar e pegar ao passar, sacos de lixo do puxa saco. O osso chiclete mais duro não agradou muito ainda, e ele come dois dos que esfarelam por dia, devora, escondeu o chiclete nos seus esconderijos atrás de sacos de lixo preto que estão sendo retirados do chão porque ele está desmontando a mudança rasgando os sacos, espalhando panos pela casa. Faz ninhos e as almofadas novas que eu acabara de fazer para Petrópolis são roubadas da cama com ele maiorzinho e arrastadas pelo chão para serem estraçalhadas, antes um xixi marca que aquilo é dele. Cria trincheiras onde ele brinca de coelho louco correndo rápido pelos seus esconderijos guardando seus tesouros, sempre que passa por uma nova aquisição ele cheka. São vários os sapatos dele espalhados pela casa, Olívia deu várias sandálias para ele destruir que depois desta fase de mordidas vão direto para o lixo. Ele os roe com sofreguidão, tudo para conter um pouco a fúria que se abate deste ser tão pequeno que está inclusive aprendendo a morder mais leve, ainda não tem noção, quando se empolga, parte para um ataque sério.
Lembra também, da mãe, quando pega uns dedos, como se estivesse mamando. Ele já está com três meses, dobrou de tamanho, vai crescer muito alguns dizem olhando suas patinhas, tem a patinha grande e as orelhinhas caídas vão emoldurar um carão, tem pata pequena outros dizem, não vai crescer muito, vai ser do tamanho de um vira-lata clássico. Na minha opinião ele vai crescer médio, vai ficar magrelo com perninhas longas desajeitado mesmo, que é o jeitinho dele.
Haja dentes finos que destroem tudo mordendo com sua boca sempre em movimento a procura do que morder, morde até ele , com sua boca de jacaré. Tá tudo dominado nessa favela improvisada todos correndo para cima das camas que ele já aprendeu a subir mas esquece que sabe, e ainda nos refugiamos lá, fugindo do Dick, o pequenino que morde.
Não sabe dar beijos, e está aprendendo a ganhar carinhos na barriga, beijos e a dar também, está ficando mais confiante e calmo mas, é ainda um rapaz de poucos amassos, prefere se entocar debaixo das camas, a ficar em cima ganhando beijos, está aprendendo aos poucos a ser mimado. Beija rápido lambendo dá uma narigada e parte para mordidas fortes se empolgando. O jornal e gritos fazem um efeito médio, ele acha que é brincadeira e quando não acha, disputa por que quer ter a última palavra, ou mordida, nem que seja de leve. Ele disfarça , finge que não está mordendo e morde outra coisa qualquer em vez da pessoa ou morde de leve. Ganhando carinhos, ele abre a perninha, se esfrega mas, igual aos beijos ele deixa só um pouco. Lindona pedia carinhos, beijos e ainda pedia a pata das visitas quando tentaram ensinar ela a dar a patinha, queria massagens e dava beijos cheirando para quem não gostava como eu de lambidas na cara. Não dá para comparar mas, é nossa experiência. Essa fera destruidor de tudo, pega a gente e morde para valer, não é carente, é independente e nos deixou uma semana exasperados até começarmos a lhe dar limites brigando com ele com o jornal, dá pena, ainda é pequenininho mas, é cínico e, precisa parar de morder, a soluçao é todos andando com um jornal na mão e vários espalhados em pontos estratégicos da casa. Parece disputar com Haroldo território, coisa de homens, já que a única cama que ele fez xixi foi a do Haroldo e é a que ele mais gosta de ficar e atacar a mordidas, está aprendendo a amar dando narigadas violentas mais bem intensionadas e gostando dos carinhos na barriga, sai rebolando fazendo festa igual quando chega gente e ele resolve aparecer depois de um teatro onde late e se esconde. Esa casa com decoração de favelão, campo minado de cocô e xixi, com esse calor do verão carioca a 40 graus, me lembra uma história da Índia onde um homem que morava com a familia em uma casa de um só cômodo, foi reclamar da vida para um sábio. O sábio então perguntou ao homem se ele tinha uma vaca: Tenho sim respondeu o homem, então o sábio disse: Pegue a vaca e a coloque dentro de casa por uma semana depois volte aqui. "O homem foi embora e fez o que o sábio mandou, uma semana depois o sábio perguntou e ai como está? "piorou muito a minha vida, a vaca suja a casa toda e o que já era ruim agora está bem pior." O sábio o mandou de volta para casa mandando-o retirar a vaca da casa. O homem foi agradecido e fez isso voltando ao sábio felicíssimo, sua vida sem a vaca dentro de casa era a melhor, nunca estivera tão bem, havia muito espaço na casa, sua familia estava feliz. Tudo limpo ele era um novo homem. Esqueceu assim as reclamações anteriores.
Com o Dick e os preparativos da mudança me sinto com a vaca em casa, sacos de lixo e caixas no meio deste apartamento entupido de móveis centenários fora do lugar, estou vivendo com a vaca.Em Petrópolis iremos retirar a vaca. A casa de Petrópolis está limpa nos esperando toda pintadinha, grande, com poucos móveis em cada cômodo, os móveis desaparecem nos cômodos, é clean apesar de antigo a decoração de Petrópolis, bem leve com muito espaço e o Dick vai estar maiorzinho, já ensinado quanto ao local de ir ao banheiro, sua educação sanitária vai apenas ser adaptada a um corredor externo que parece ser o melhor local por lá e principalmente suas mordidas, com os dentes crescendo e incomodando com o desmame ainda recente já terá mais tempo e ele já confiante terá aprendido a amar; será uma ferinha menos agressiva e nós também já teremos aprendido a amá-lo. É nesse aprendizado observando pequenos cuidados dele para conosco e nosso para com ele esse aprendizado mútuo de carinho e amor, coisa sutil, como alguém nos fazendo um sanduiche de carinho e o outro repondendo com uma doce geléia de amor, nesse aprendizado com pequenas sutilezas, as delicadezas sobre a arte de amar que um cão tão bem sabe ensinar, nos fazem entrar em contato com o amor incondicional, o amor mais refinado que se tem,o amor dos cães. Estamos assim, construindo no dia a dia com alegria pinçada no cotidiano mais banal, o amor, antecipando essa mudança onde vamos montando o quebra cabeça chamado vida.



quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

Capítulo 4

Dick



Um filhotinho de vira-lata, de focinho preto patinhas bege claro, pêlo marrom e preto com um friso no meio de toda sua coluna da cabeça ao rabo no estilo gambá americano.Um olhar digno com sorriso de homem, homem sério. Chegou o Dick! Mal anda, ou melhor, anda trôpego segurando com dificuldade a cabeça. É magrela com barrigão, tipo retirante nordestino. Já foi vermifugado no abrigo. Não para um minuto por duas horas, depois apaga, dormindo entocado por uma hora com a linguinha para fora sonhando que está mamando batendo a patinha na teta da mãe.
Falei para Olívia escolher o mais esperto e ele, o único acordado no abrigo que brincava de morder com um cachorrão, já mostrava o que estava por vir, é hiperativo, um bebê de dois meses, dentes nascendo, morde tudo e, todos com força de destruidor nato. Uma fera. Faminto, come com sofreguidão de indigente depois sai batendo o seu prato de ração para filhotes, a única no mercado, molinha, a Frolic Júnior. Água, derrama para todos os lados. Dorme e acorda fazendo xixi e cocô em todos os colchonetes que eu coloquei ao lado da cama para eventuais quedas. Marca o território. Se abaixa para fazer xixi, ainda não aprendeu a levantar a perninha. Tenta descer dos lugares baixinhos se lançando para cima e abrindo as perninhas no ar, um kamikase, que se joga nas pernas das pessoas correndo, caindo sobre os dois pés, voôu várias vezes em cambalhotas inevitáveis quase ocasionando acidentes de tombo duplo. Acorda mansinho, bonitinho, calminho e, vai acelerando mordendo tudo e todos. Rejeitou o osso chiclete, muito duro, então ganhou da Raquel uma caixa de ossinhos para filhotes, devorou ansioso todos, em três dias. Mandei comprar mais, Haroldo trouxe o mesmo, que esfarela, em sacos, com formato de lápis, um perigo, pensou Olívia preocupada com ele que tenta pular das camas com o osso na boca mal aguentando a cabeça quase batendo o queixo no chão e, temos que vigiar quando ele desce, pulando nos colchonetes que amortecem o salto.
Descobriu a geladeira, através de um pingo de ambrosia, doce imperial que caiu na frente da geladeira e, ele lambeu, passou a vigiar a porta , louco, tentando entrar para pegar tudo lá dentro. Come cenoura e beterraba. Tão diferente da Lindona que só comia ração e peito de frango, nenhum legume ou verdura: quando ficou doente uma vez e foi receitado um regime onde teríamos que cortar a carne, não foi possível de fazer.
Vou acostumar ele a comer legumes que não causem gases, batata e grãos é proibido, mas tem uns que são fundamentais, como a cenoura e a beterraba crua ralada e, frutas também é bom acostumar.
A casa precisa ser limpa todos os dias com Lisoforme, único desinfetante eficaz que não faz mal para animais, quando ele dorme, é hora de corrermos para passar pano em tudo quanto é lugar que ele usou como banheiro.
Na primeira noite ele dormiu agarrado no meu cabelo que eu tinha lavado como ele, com sabonete de enxofre que é bom para a pele e nele cura a perebinha do rabo, receita da futura veterinária Raquel.
Ele deve ter achado que eu era parte dele com o mesmo cheiro.
Olívia no dia seguinte ao banho dele aplicou Frontline em gotas para cães até dez quilos para exterminar algumas pulgas que já estavam começando a aparecer. Ele adorou dormir sozinho, se entocando atrás do sofá, debaixo da estante, não gostou de ficar na cama agarrado, é tipo independente de poucos beijos. Se entoca em espaços ínfimos, cada hora numa toca diferente, prefere os móveis mais pertos do chão e, quanto mais estreito e impossível de chegar, mais ele se diverte se escondendo. Outro dia desapareceu e fomos descobrí-lo somente quando resolveu aparecer, ele tinha conseguido a façanha de se entocar atrás de um sofá Chesterfield que tem um espaço embaixo porque aparte abaloada encosta na parede, espaço ínfimo que ele entra e sai como um coelho louco com as orelhas para trás e em alta velocidade. Deve ter alguma coisa de caçador, cachorros do tipo que entram em tocas, por que ele adora isso.
Voltei então a dormir na minha cama, deixando os colchonetes para o caso apenas dele cair. Tão diferente da Lindona que era tão carente. Haroldo o confunde e o chama de Lindona minha cachorrinha, ele lhe dá uma mordida e sai independente. Abusado e corajoso, é homem e além da cara tem jeito. Ele o chama também de ratão do banhado por causa da cor do pelo. Todo território marcado começamos a educação sanitária. Biscoitinhos Maria de maisena no banheiro, local escolhido para iniciar o treinamento. Ele está aprendendo. Vai ser mais fácil quando chegar em Petrópolis. Ele gosta de ganhar biscoito toda vez que acerta um xixi bonito ou um cocô bonito, para completar levou ossos e brinquedos para o banheiro e, fez mais um lugar seu. Seus diversos potes de água pela casa, com ossos escondidos em cada cômodo o deixam tranquilo. Destemido e, independente, morde o tempo todo e só dorme sozinho, não gosta de ficar em cima das camas, graças a deus, não consegue ainda subir sozinho e nós nos refugiamos lá. Ele chora e, late irritado, quer subir mas, ele morde, vai para o chão, leva uma bronca com barulho do jornal e, sobe por um lado, desce pelo outro. Quando ataca, lhe empurramos osso ou sapatos velhos, ele ganhou uma coleção para destruir, revistas que ele já atacou nas primeiras prateleiras da estante, adora rasgá-las. Abrimos lhe a boca para retirar nossas mãos ou pés ou qualquer roupa porque ele morde com força, sem noção. Está melhorando, mas é cínico, quando morde e leva um safanão, sai fingindo de desentendido, malandro, finge que morde outra coisa e, corajoso, volta a investir mesmo com o coraçãozinho batendo forte ao escutar um sonoro não, acompanhado de uma batida de jornal: ataca o jornal, a tudo e a todos, o tempo todo e, nos refugiamos nas camas. Parece que dura um mês e meio essa coisa infernal de morder, são os dentinhos de leite nascendo. Um chato, reclama Olívia e todos nós, com essa carinha, quem diria. Vamos ter que impor limites.



Capítulo 3

O Escolhido que se Escolheu




Raquel estuda veterinária, amiga da Olívia desde o primeiro grau no CAP, mostrei a ela os jornais que havia guardado para elas procurarem um cãozinho em Petrópolis que tem o cantinho de adoção por telefone mas achava que era melhor um mês e meio antes da mudança, para ele chegar maiorzinho na casa, afinal era o guardião. Ela nos disse que tinha um abrigo na sua faculdade em Vargem Pequena, onde aparecia uns cachorrinhos de vez em quando, recolhidos nas ruas ou levados por alguém que fica de responsável até conseguirem adoção. Eles vermifugam e tratam, deixando-os em uma jaulinha expondo-os procurando adoção. Ela ficou de ver se aparecia algum filhote antes de sair de férias no início de dezembro de 2006. Pegou as recomendações: pelo escuro, curto, pequeno, macho e o principal, tem que latir, senão eu vou ter que ensinar latindo quando chegar alguém. Era esse atributo de guardião que eu precisava, qualquer coisa eu ensino, mas o melhor, é escolher algum esperto latindo.É pra agora então, eu disse olhando para Olívia que preferia que adotássemos depois dela se mudar para seu apartamento de solteira que ainda estava procurando nos jornais sem achar.
A morte da Lindona gerou muito sofrimento, as duas dormiam agarradas, mas ela topou, daria um apoio, é o cachorro de Petrópolis, é de vocês falava.
Na verdade achou melhor ir no abrigo pequenininho, da faculdade da Raquel, do que procurar em um abrigo grande, muito deprimente, com muitos para escolher, ela só escolhendo um , os outros ficando a procura de adoção, só querando ser amados, não queria encarar isso.
No abrigo da faculdade ela iria com a Raquel ver.
A mudança foi adiada um mês, agora era para 27 de janeiro de 2007, afinal sempre moramos no Rio e os móveis centenários da casa que haviam se mudado somente uma vez em 1992, estariam voltando à casa com muita coisa para encaixotar.
Eu não iria no abrigo buscar o Dick, isso é coisa de futura veterinária com Olívia, que convidou a Júlia, sua amiga bióloga, que viajou com ela para a Europa, para buscar o Dick como um presente de natal para mim e para o Haroldo, ela daria esse presente.
Raquel pegou todas as indicações e ficou combinado que se ela achasse algum, ela ligaria. Ia ficar de olho na faculdade que já estava para entrar de férias, depois ficaria mais dificil. Três dias depois ela ligou à noite informando:
Pretinho e marrom, gordinho, cara de pastor alemão, é vira-lata e, não deve crescer muito, o único macho, o resto que tem lá é tudo fêmea, vamos marcar de buscar amanhã. Passo lá e pego, trago para casa que é ao lado no campus da faculdade e você pega direto lá em casa, antes dou vacina e o que for necessário. Olívia concordou e nós também. Dormimos em polvorosa. Última noite na minha cama pensei me preparando para um mês e meio no chão, no meio de choros do bebê cão. Lindona chorou um mês e meio todas as noites com saudades da matilha; eu tinha que dormir com ela no chão, era preciso um revezamento e todos ficaram de ajudar. Ainda bem que apareceu um mês e meio antes da mudança, ele chegaria em Petrópolis maiorzinho, como eu queria, e eu ainda teria ajuda da Olívia para revezarmos com o filhotinho. O telefone tocou acordando Olívia na hora do almoço, era Raquel esbaforida: Chegaram mais dois machos! Olívia teria que escolher, estava em casa esperando por elas para irem ao abrigo pegar o Dick.
Rapidamente Olívia acordou e, ligou para Júlia para ir com ela buscar o corpo do Dick, como disse o pai da Júlia, que ficou ainda de levar uma caixinha de viagem que tinha sido da sua gatinha Rinnie, onde pegariam o Dick Bebê. Escolhe o mais simpático e animado eu disse me despedindo da Olívia na porta. Haroldo acordou e foi comprar ração de filhote, eu preparei uma caixinha de papelão para colocá-lo como uma caminha, separei um colchonete para lateral das camas; Olívia e Júlia partiram para a faculdade em Vargem Pequena, zona oeste do Rio. Lindona havia sido enterrada na zona oeste e, o Dick estava vindo de lá sendo retirado de um abrigo para cães abandonados.
Ao chegar no abrigo Olívia, Raquel e Júlia encontraram todos os filhotes dormindo, menos um bege de focinho preto, que brincava de morder com um grandão. Ele chegou até elas chamando a atenção. Raquel o pegou no colo e perguntou a êle se êle era o Dick, Olívia achou que sim, tinha se escolhido indo falar com elas. Seria um rapaz de família, iria para a cidade imperial ter vida de barão.
Levaram ele para uma consulta médica.
Olívia pediu para a Raquel encarar a vacina com ele, não queria olhar. A moça da sala se ofereceu para cortar o rabo e a orelha dele. Olívia agradeceu a preocupação estética, e recusou com horror o serviço. Ele seria normal com suas orelhinhas caídas e rabo argolhinha como disse mais tarde o Luiz, outro amigo da Olívia, bonitinho do jeito que era, até com uma perebinha no rabo que passou despercebida da Olívia, que foi fazer o papel de adoção, enquanto Raquel se encarregou de vaciná-lo.
Raça: SRD (Sem Raça Definida) = Vira-lataço clássico disse Olívia.
Com dois meses de idade, tinha ido parar no abrigo naquele dia o sortudo, brincou e nem dormiu no abrigo, foi logo adotado. Leva o irmão também, disseram, Olívia arregalou os olhos, basta um. Seu irmão em seguida foi adotado também, dos machos sobrou o pretinho que estava dormindo. Raquel ainda quis ver os outros na hora que estavam saindo, mas Olívia recusou-se, incomodada de só estar adotando um. Já havia escolhido o Dick.
Antes de vir para o apartamento da Lagoa passaram na casa da Raquel que mora com três gatos, ele ficou meio temeroso para pânico do Haroldo que morre de medo de gatos e tinha pedido para não passarem lá. Sem medos, ele não é a Lindona.
Ele veio na cestinha da Júlia que não achou a jaulinha, cestinha de palha, com um paninho, um verdadeiro retirante, brinquei. Chegou quietinho na cestinha, tão pequenininho. O colocamos na caixa para ele dormir, mas antes demos ração que ele comeu como um indigente, depois dormiu de barriga cheia pulando de cabeça na caixa, sabia entrar e sair.
Inteligentíssimo!



Capítulo 2

Em Busca de um Abrigo

A casa centenária de Petrópolis vagou. Esteve alugada por mais de dez anos, foi igreja coreana, foi centro de saúde da prefeitura e agora desalugou. Está vazia e eu vou pra lá. Mudança radical, é o que eu preciso. Pensei. Desde que esvaziei a casa em 1992, retirando seus móveis centenários do lugar e após a morte dos pais do Haroldo que moravam por lá, a aluguei trazendo os móveis para o apartamento do Rio, minha vida profissional parou, fiquei doente, primeiro do pé, sendo o único caso de cura total que voltou a andar , depois foi a coluna, mesmo milagre feito na base de trabalho árduo para funcionar, depois colites e por fim uma síndrome paranóide que me tirou do ar em 2002 para só sair desta em 2006. Tudo de fundo psicológico. Medos, foi o diagnóstico de um analista. Ainda sob tratamento de remédio e de acompanhamento médico de análise, tomei a decisão de mudar para lá. Uma sindrome paranóide é um surto psicótico que você jura com certeza absoluta que está sendo perseguido até a perda da noção de realidade, já que a perseguição é coisa impossível, não palpável e muito menos plausível. A coisa desaparece com remédio e análise. Rapidamente normal e pasma pelo que passei, resolvi rever os anos que passaram, anos perdidos, com urgência de mudar. Hora de levar todos os móveis centenários de volta para o mesmo lugar e remontar o museu. Nada de alugar mais a casa, pois roubaram até as maçanetas nestas temporadas de aluguel. Preciso de casa que tenha jardim e posso refazer meu estúdio, dar aula de teatro, voltar a trabalhar e a viver. Quero escrever e publicar e, quem sabe, voltar a dirigir teatro, trabalho parado desde 1989, quando bati recorde com seis indicações para o prêmio Mambembe e, em vez da minha carreira como diretora teatral, dramaturga, figurinista e produtora deslanchar, me retirei do mundo.

Chega de férias."De drama, só teatro. Vou voltar a viver e quero, principalmente, escrever vivendo em uma CASA, nada de apartamento e, nada melhor do que aquela casa centenária, tão definitiva no terreno de 1892 que não se vende, é minha, e grande, dá pra tudo. Está reformada.Numa cidade nova, eu vou construir uma vida nova.Nunca vivi nada assim. Sou carioca e sempre morei na zona sul. Vou viver".
Haroldo parou por um segundo ao me ouvir falar e disse que ia também. Quer fazer uma velhice planejada já que, como eu, nunca planejou nada.
"Vou reviver minha infância na minha velhice, uma nova fase, Olívia vai morar sozinha mesmo, não vou ficar neste apartamento sozinho. Na minha infância eu veraneei lá, vai ser bom tudo no mesmo lugar, a mesma vista tombada, como nos anos cinquenta quando tive a Diana que guardava a casa, vou ter, na velhice, o Dick como companheiro e guardião da casa. Podemos pegá-lo em um abrigo para cães, algum cãozinho abandonado para ter uma vida digna, um companheiro para a vida. Vou fazer naquela cidade um paraíso e, a hora de mudar é essa quando estamos todos bem. Você ficou boa e eu estou acabando um filme. Vamos botar os móveis no lugar montando o museu, tudo como era desde 1904. Vou inventar trabalhos naquela cidade. Não é para envelhecer sem fazer nada, ainda tenho que fazer outro filme e só preciso acabar o que tenho que acabar nesse filme e aí mudamos", completou ele com animação. E começou a consertar a casa, colecionando tiras do Snoopy, em especial as do concurso do cão mais feio, pensando no Dick, tão diferente da Lindona. Marcamos a mudança para dezembro de 2006, Olívia de férias na Europa comunicou que:Cachorro só na casa, ela não queria nenhum no apartamento porque ela lembraria da Lindona. Concordei.
Comecei a juntar recortes de locais que doam cães, abrigos onde são recolhidos de diversas maneiras e depois de um trato tentam doar. Descobri que doações são feitas quinzenalmente na praça N. Senhora da Paz e que , em Petrópolis, sai no jornal Tribuna de Petrópolis uma coluna específica onde são oferecidos cães e gatos.
Eles vermifugam os filhotes, os mais velhos são castrados, publicam fotos tentando adoções e é o Gapa que faz este trabalho junto com outras instituições.
Apareceu ainda o Dunga, um fox paulistinha que estava para cruzar e como ele é muito simpático e não se parece com a Lindona, poderia ser um filhote seu, mais ainda ia demorar. "Fox paulistinha, não!", esbravejaram os amigos da Olívia. Um labrador é melhor! Um labrador , não. É muito grande, eu disse e, se não nos adaptarmos na casa de Petrópolis e resolvermos voltar a morar em um apartamento no Rio, é preciso ser um cãozinho pequeno. "Podem ser dois para ele ter companhia e saber que é cachorro, diferente da Lindona, não pode ser branco, nem peludo, nem fêmea. Se forem dois, pode ser um casal, ter filhos e depois liga as trompas ou castra o macho! Haroldo falava sem me dar ouvidos. Dois? Quem vai cuidar, ter filhos? Uns onze de uma vez, vai ser uma loucura. Contestei. É melhor um, primeiro um macho, o Dick e depois a gente vê. Coloquei panos quentes no entusiasmo do Haroldo. "Estou queimando as caravelas indo para Petrópolis, não tem mais volta para o Rio", como os espanhóis quando invadiram a América do Sul e queimavam as caravelas para não terem como voltar para a Espanha. Haroldo com seus dois cachorros moraria de forma definitiva em Petrópolis. Sempre morou provisório brincava, agora era definitivo. A casa na família desde 1904, era de 1893. Uma casa boa, não muito grande, que se divide em alas, a primeira , uma suite , uma sala e uma varanda é a do Haroldo, a segunda, um quarto com banheiro e uma estante enorme no seu pé direito alto é o escritório, coringa de quarto de hóspedes e da Olívia veranear , até o apartamento do sótão, uma obra inacabada ficar pronto com sala, quarto com banheiro e closet dando para o salão onde é o local de dar aulas de teatro, uma sala de ensaio tipo um teatrinho com uma entrada independente. Tem ainda um salão , a sala de jantar com uma varanda fechada e uma suite que é o meu lugar. E... quartinhos para fazer camarim de teatro ao lado do salão , um hall do sótão para marcenaria, um quartinho para costura, outro para meditação, uma estufa, copa cozinha, quintal e jardim onde quero plantar uma árvore frutífera para todos , e a jabuticabeira foi a escohida. Um paisagismo , junto com a obra do sótão, e uma piscininha já entraram nos meus palnos futuros.
O Dick vai se perder. É grande a casa para um cão.





Casa de Petrópolis

terça-feira, 11 de dezembro de 2007

Capítulo 1


No ideograma chinês:

Crise é igual a oportunidade.



Meu próximo cachorro vai se chamar Dick, de Dick Farney, o ídolo do rádio nas
décadas de 40 e 50, época em que só se ouvia música americana e muita gente teve
cachorro com esse nome. Vai ser meu companheiro e não a minha caçulinha (como a
Lindona), vaticinou Haroldo, depois de algumas cervejas, antes de tomar o caminho
do bar, sonhando com seu companheiro de terceira idade. Lindona havia morrido,
de repente, há poucos anos, ela era uma cadelinha tenerife, que nos deu alegria por
dez anos.
Criada no apartamento da Lagoa, Lindona chegou quando Haroldo tinha quarenta e
oito anos, eu trinta e cinco e nossa filha, Olívia, treze.
Isso ocorreu à época de minha separação, o que foi mais uma evolução de
relacionamento. Eu e Haroldo passamos a dividir o mesmo apartamento, com vidas
separadas e viramos irmãos por escolha, já que convivemos um com o outro mais
tempo do que com nossos irmãos originais.
Lindona era o esteio da família, unia todos nós e queria-nos em casa sempre juntos
e, se por acaso todos saíssem e ela ficasse sozinha, ela fazia xixi no meio da sala e
latia para a porta o tempo todo. Tinhamos que chamar um dog siter para ficar com
ela e, quase sempre, era um amigo da Olívia que fazia este papel, por acaso, seu
apelido era Dog. Ela era o nosso bebê e se comportava como uma pessoa responsável
e cheia de manias. Quando Haroldo teve um AVC transitório e ficou com um lado
paralisado por uma hora e meia, ela foi me avisar. Quando queríamos chamar
alguém em outro aposento era só pedir que ela ia até lá , e só aparecia de volta com a
pessoa. Estava acostumada a ouvir e a entender tudo o que se falava. Haroldo,
pasmo com ela pequena, a chamava de Einstein. Dá certo conversar com os cães, eles
entendem tudo. Isso, eu já tinha testado com minha cadela de adolescente, chamada
Preta, que ficou tão inteligente que gostava de sair na rua sozinha e ir até o jornaleiro
comprar jornal. Adorava, ainda, andar de elevador, já que, morando no segundo
andar do prédio, pegava carona e saltava em qualquer andar só pelo prazer de
passear no elevador, escutando conversas e decidindo onde ir a partir do papo.
Lindona mal saia de casa, era bonita demais, tinha trinta e cinco centímetros de
altura, batonzão , lápis preto nos olhos, pelo parecendo paina branca e barriga rosa.
Era tão bonita que dava medo de algum sequestro, como aconteceu com uma amiga
que tinha um Boxer albino e fora perseguida na rua. Também na casa de Petrópolis
nos anos oitenta, um Old Sheep Dog foi sequestrado na calada da noite. Com este
acervo de informações, o medo de roubarem a Lindona viveu sempre conosco e ela
viveu praticamente presa no apartamento (grande) na Lagoa. Saindo pouco, ela tinha
um ídolo, o Encrenca, que ela olhava da janela e sabia que ele era um cachorrinho,
coisa que a respeito dela , ela não sabia. Era tão humana, que sua reação ao ver uma
barata era imitar Olívia, subindo na cama e gritando, como sua irmã de verdade,
tendo até uma cama igual no quarto de solteiro da Olívia.
Para caçar barata, era igual a gato, batendo com as patinhas e isso, porque eu ensinei.
Encrenca morava em frente , e ela, da janela, o vigiava já que ele costumava sair à
toda hora. Ele era um Poodle branco que ela resolveu namorar, mas como ele era
muito novo não deu.
Arrumei um namorado igual a ela na internet, mas ela o esnobou, e, quando fui a um
canil com ela , ela se apavorou.
Foi ainda, visitar um Bichon Frisé com pinta de francês, cuja casa ela bagunçou toda.
Não teve jeito, era seu último cio para ter filhos e ela não quis outro senão o
Encrenca. Como não deu, não cruzou com mais ninguém, e o perseguiu, mordendo,
pelo resto da vida. "Boiola", ela devia pensar, e partia para um ataque ao coitado.
Sua morte deixou um vazio e um medo de se apegar a qualquer coisa, uma urgência
de vida nova, vida de solteiro, uma mudança, era hora de mudar, viajar, dar uma
guinada na vida para qualquer lado, mudança radical para sairmos do marasmo que
nos encontrávamos. Seus brinquedos espalhados e as fotos em murais nos
lembravam, com dor , essa perda e imediatamente o medo do apego aparecia.
Lembranças alegres nos faziam chorar à toa. Quando Haroldo falava do seu próximo
cachorro, Olívia dizia que não queria ver, não queria se apegar e sofrer, iria morar
sozinha e teria um gato. E eu, só pensava em cuidar de mim e somente de mim,
voltando a trabalhar depois de muito tempo de doenças em série, uma longa
hibernação.
Olívia, já com quase vinte e sete anos resolveu viajar indo para a Europa de mochilão.
Foi.
Quando voltasse iria mudar e morar sozinha, já era hora. Havia trancado a faculdade
de jornalismo esportivo e não queria estudar, queria trabalhar em alguma ONG com
crianças, algo ligado a esportes, se inscreveu no Pan Americano e torcia para ser
convocada para qualquer coisa, pois queria experiência em algum trabalho
voluntário. Filha única, nunca trabalhou na vida. Mimada, só perdia para a Lindona
que era a mais mimada.







Lindona