domingo, 16 de dezembro de 2007

Capítulo 7

Cidade Nova - Casa Nova


Escrevendo em uma página em branco




Demora três meses se apaixonar por um bichinho de estimação e, isso de má vontade, por conta da morte da Lindona. Dá para minutar quanto tempo o amor demora para acontecer. É infalível. Estou completamanete apegada a esse serzinho que ainda morde pra valer, mas tenta me mostrar que é só brincadeira, pegando minha mão de leve para arrastar para qualquer lugar, como as mães que transportam filhotes segurando com a boca pela nuca sem machucar.
Ele agora, também confia inteiramente em mim, dorme comigo aninhado nas minhas pernas,vigiando a porta, não me acorda, espera eu acordar fazendo sua bagunça costumeira com seus ossos e brinquedos no chão e na cama, para se lançar sobre a minha pessoa e me pegar pelas mãos debaixo de lambidas, e de beijos de bom dia, ele também está apaixonado. Estamos vivendo um idílio amoroso que tenho que tomar cuidado para não gerar medos.
Outro dia ele comeu uma planta tóxica e ficou por um tempo com problemas neurológicos, tremia e andava cambaleando fazendo xixi nele mesmo, vomitou um pouco e eu dei então uma clara de ovo para ele beber que é antídoto contra envenenamento e ele gostou muito, ao contrário da Lindona que cuspia na minha cara qualquer tipo de coisa que eu lhe dava com a seringa direto na boca, ele dormiu e acordou normal, mas foi um susto. Ele come o que pintar, minhocas que ele cava na jardineira, frutos de um cacto grande que estava na casa, galhos, plantas em geral e qualquer porcaria que encontre, é um perigo. Destruiu minha sandália e comeu os pedacinhos.
Dizem que cachorro escolhe que mato comer, sei não, esse come de tudo. Vou mandar limpar o jardim e selecionar plantas, Haroldo, exagerado, já queria arrancar tudo, as roseiras ele tem horror por causa dos espinhos, e dos coelhos loucos do Dick em sua base. Ele é um caçador, já mostrava isso se entocando atrás de sofás e debaixo de móveis baixíssimos, no apartamento da Lagoa no Rio. Ele caçou uma barata e levou para a minha cama igual a lagartixa e até minhocas, que ele desentoca na terra jogando a terra da jardineira no quintal, fazendo uma sujeira absurda e ficando todo sujo arrastando para a minha cama o que encontra pela frente. Ainda bem que só tem esses bichos pequenos na casa, a cama é minha e dele, por isso ele carrega tudo para lá. Acho que vou ter que arrumar uma cama para ele somente. Ele apareceu ainda com uma picada de bicho na bochecha, fiquei com medo de ser alguma cobra, mas deve ter sido algum espinho da roseira. Passei sabonete de enxofre no local.
Vou deixar só canteiros no contorno do jardim com plantas selecionadas que não façam mal, mas as roseiras dá pena, tem várias e são lindas. Fico cheia de medos nessa casa super segura, bem no centro histórico da cidade e para me retirar o medo e me sacudir, a realidade passa travestida de cães de rua, são muitos por aqui.
Outro dia uma matilha de cinco filhotes passou na minha calçada andando em fila um dando segurança para o outro, pequeninos, sabidos, já tinha visto eles passarem separados, agora voltavam juntos, me deu vontade de seguí-los para ver aonde iam, devem ficar em algum lugar, afinal existem, comem, dormem...mas achei loucura seguí-los e ainda, o príncipe não fica um minuto sozinho que faz um escândalo.
Fui ao Rio outro dia, fiquei uma hora e voltei, ele ficou chorando muito com a Olívia que estava aqui por sorte.
Haroldo sai quase todos os dias em busca de um bar na cidade carregando sua caneca e gelo, por que ele só toma cerveja com gelo, sai buscando um bar com gente como ele na cidade, coisa difícil, moramos no centro onde o pobre e o rico se misturam, o que diferencia a frequência dos lugares é o preço, na mesma rua um bar cobra a metade do preço do outro para selecionar a freguesia, ainda, o pobre, passa escutando música funk e o rico, música sertaneja. Mas Haroldo busca um lugar, fazedor de points como o Baixo Leblon, Baixo Gávea e o Baixo Jardim Botânico, não vai descansar até achar um lugar para bebericar e encontrar gente como ele para bater papo.
Ele costuma sair e voltar da sua busca sempre no mesmo horário, o Dick, que não é bobo, já se habituou a rotina dele, na hora aproximada dele chegar, ele começa uma choradeira na porta da varanda, como um despertador, faz gritaria na hora certa e ainda, fica arteiro; tenta se jogar pela janela, tenta me morder, fica vigiando da janela brigando com qualquer um que se sente na beira da cerquinha, quer todo mundo circulando, a casa está sob a guarda dele, e ele fica super ansioso. Quando Haroldo chega assuviando, ele finalmente se acalma, virando um santo, pega seu osso e deita na cama feliz, depois de muitos beijos. Faz o papel de guardião muito bem. Um pouco destrambelhado, mas é o jeito dele com seus cinco meses, ainda muito pequenininho mas já um vigia nato como demosntrou no abrigo sendo o único acordado. Falando em abrigo, Raquel comunicou que o pretinho fora adotado na mesma semana e outros novos lotam o lugar, é essa a triste realidade. Adotei um que já virou um rapaz de família, um barão, amado e bem tratado, ganhou da Olívia em sua última visita uma coleira azul igual a cor das janelas da casa, foi a única que deu, das três que ela trouxe, ele a usa com um pingente da veterinária, com nome e telefone para o caso de fuga, vive com ela, ficou muito bonito com a sua coleira, e está grande, forte, sagaz enquanto tantos outros Dicks, vira-latas comuns estão soltos nas ruas ou presos em abrigos, sem amor, com um destino terrível, logo esses seres, que nascem para nos ensinar a amar. É o mundo, mas podemos ajudar a melhorar.


Meu orelhão cresceu primeiro

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