domingo, 16 de dezembro de 2007

Capítulo 8



O Lord Inglês




Foi estabelecida uma rotina. Dick acorda às seis e trinta da manhã, brinca um pouco checando cada brinquedo, depois corre para a parte da casa do Haroldo, invadindo seu quarto e pulando em sua cama para beijá-lo e acordá-lo com suas lambidas, vai então ao banheiro, depois volta para o meu quarto me acordando agora (antes não me acordava) e vai tomar café da manhã com o Haroldo, dá uma batida no quintal e sobe lá para cima no terraço, voltando para o meu quarto onde brinca mais um pouco se recuperando do frio entrando debaixo da minha coberta. Eu levanto e ele vai para o seu posto de segurança na janela da sala do computador ver se o sol já chegou. Toma então seu banho de sol dando uma dormidinha. Ele brinca sozinho e vive atrás de mim como uma sombra.
Tem medo de gente e mais ainda de gente grande, se apavora, se esconde e late o tempo todo. Outro dia dei um almoço onde ele se escondeu o tempo todo, medroso passou o dia fugindo, indo para o outro lado da casa onde não tinha gente.
Apareceu em seu rostinho uma feridinha e não ficava boa, então chamamos o veterinário, que ele morreu de medo, claro, tremia de medo, abraçado ao Haroldo no sofá da sala. O veterinário olhava para ele de longe, e foi chegando aos poucos perto dele para conhecê-lo. "Deve ter sido a roseira que tem ainda um fungo, ou foi alguma picada de bicho no jardim", ele ficou impressionado de como ele é medroso, recebendo visitas. Passou uma pomadinha, crema 6A, para passar duas vezes por dia no local do machucado, na bochecha, local bom, afinal ele não alcançava ali e não lambia, mas o problema é que ele não para quieto e é tarefa impossível passar alguma coisa nele com ele acordado, resultado passei a colocar o creminho, no cochilo da manhã e no do final da tarde, ele, desconfiado cheirava a minha mão e passou a me vigiar sabendo que eu tinha passado alguma coisa nele, vigiou, vigiou, até que um dia, pegou a pomada que eu tinha colocado no baú ao lado da cama com caixa e tudo, e levou para o meu quarto destruindo primeiro a embalagem, a tampa e, quando ia chegar no creme, eu entrei e arranquei dele na hora exata ao ataque principal.
Por conta disso Haroldo mandou arrancar tudo do jardim, todas as roseiras e todo o resto, para fazer um gramado e depois plantarmos plantas selecionadas nas bordas. Eu queria plantar Hortências junto a cerquinha baixinha, mas descobri que é venenosa para gatos, se é para gatos, deve ser para cachorros, na dúvida foi vetada. Nada de Hortências, Haroldo resolveu plantar grama, até numa floreira da janela, já que rato de cidade, ficou louco quando viu o mato crescer rápido nos pedriscos e por toda a parte.
O jardineiro virou o ídolo do Dick, ele o chama de neném, como eu, e ele adora ficar na janela olhando ele trabalhar no jardim da frente da rua, local para onde ele adora escapar , e nós quase não deixamos ele entrar ali por causa das roseiras que haviam lá, é onde vai entrar o gramado para ele. Já está todo pelado o jardim, e deixei ele ir até lá, logo depois da limpeza, ele correu e fez um buracão na terra. Haroldo ficou furioso, acha que ele vai acabar com o gramado.
Na jardineira do quintal, ele agora sapateia por inteiro abrindo buracos com seu narigão, já que foi-se sua pimenteira e sua roseira. Achou um grilo e uma lagarta no dia da limpeza, latiu para eles, mas não os abocanhou, eu acho, porque ele latia afastado, até eu retirar os bichos do seu quintal. Deve ter aprendido depois do episódio onde uma formiga gigante que ele abocanhou ficou agarrada na sua língua sem que ele conseguisse arrancá-la, eu tendo que retirá-la de sua língua, enfiando a mão em sua boca e agarrando-a, pois ela estava com o ferrão fixado na língua dele. Isso aconteceu duas vezes e acho que ele aprendeu a não abocanhar tudo que é bicho que vê.
Está dengoso demais, quem te viu e quem te vê, nem parece o mesmo, tão arisco, está magrelão, comprido e dengoso, continua a chorar quando Haroldo sai e ele cisma de marcar hora para ele voltar começando a choradeira uma hora antes do real retorno.
Fui na rua Tereza , rua de malharias com Olívia outro dia e ele ficou com Haroldo. Começou a chorar, depois grudou no Haroldo, dormindo com a cabeça em seu colo, na sua cama, debaixo do cobertor. Quando fui ao Rio de novo, ele ficou mais calmo, já está sabendo que as pessoas saem e voltam e eu também, que quase não saio e ele é mais agarrado.
Quando Olívia chega ele fica doido, dá saltos altíssimos nos preocupando, pois ameaça saltar o portãozinho baixinho da varanda, impaciente. Quando Olívia conversou comigo pelo computador, msn, com vídeo e áudio, ele ficou procurando por ela na janela, corria para a porta de entrada esmurrando a porta e quando ela foi embora para o Rio, eu disse a ele que ela tinha ido para a casa dela, ele então pegou a coleira que usou somente uma vez quando veio do Rio e foi para o quarto da Olívia. Parecia saber quão distante é a casa dela e que para chegar lá , tem que usar coleira, viajar de carro, parecia relembrar sua vinda para cá.
Conheci o apartamentinho da Olívia nessa ida ao rio, "bunitinho", adorei a cozinha mínima toda moderna. Ela pintou de lilás os portais e portas, ficou uma graça. Está ainda montando, falta mesas e outras coisinhas. O local é ótimo, bem central e seus amigos não saem de lá, não vai sentir solidão, tem sempre gente passando por ali para uma visita. Ela está adorando, é a cara dela, foi muito bem escolhido. Muito claro com uma vista aberta. É pequenininho o apartamento, mas têm-se a sensação de algo amplo devido a vista aberta, batendo muito sol.
Sai para comprar roupas de frio na rua Tereza, porque por aqui o frio já chegou, baixa um ruço no fim da tarde ensolarada, cai uma chuvinha fina e o termômetro cai rapidamente, precisamos ser ágeis na troca de roupa para a de frio instantâneo; nesse dia que sai, encontrei aqueles cachorrinhos da matilha, correndo, subindo uma ladeira de acesso a rua Tereza, onde tem casas de uma comunidade carente, eles corriam felizes com uma criança daquela comunidade. Não são abandonados, pensei, são da comunidade carente e fiquei aliviada.
Estou preparando este texto como um blog, além de livro, queria fazer um site incluindo links de uns trinta lugares que fazem programas sociais para melhorar a situação dos animais de rua em todo o Brasil, com adoções de castração, coisa de pais de primeiro mundo, onde não recolhem e matam os animais de rua e sim usam essa política de trabalho árduo para esterilizar as fêmeas, e conseguir adoção. Mas o site não foi possível, então eu fiz sozinha o blog mesmo, quem quiser ajudar pode procurar na internet que é fácil de achar um lugar para ajudar de alguma maneira. Passei ainda para a Raquel o comunicado da comunidade do Orkut, da "sos vira-latas", que está renovando a diretoria e pode ser qualquer um que ame animais a fazer parte do grupo. Encaminhei o comunicado para a Raquel, que teve que recusar por conta da super carga horária, na faculdade de veterinária no Rio, com aulas até aos sábados. Ela adorou o trabalho do Gapa, que ela viu no site, e pensa em ter essa experiência de trabalhar com ong quando se formar em veterinária.
Eu queria poder ajudar, minha casa é no centro da cidade, e tem o espaço do terraço fechado com um quartinho lá em cima, e ainda, dois quartinhos em baixo com uma cozinha e o quintal com saída independente, tudo espaço ocioso, porque não comecei a dar aulas e não estou no momento, com vontade para isso. Queria ajudar esses grupos, mas, ao vivo e a cores, eu não tenho estrutura emocional para encarar a barra pesada dos voluntários, então fico só admirando pelos sites destas instituições, o belíssimo trabalho que elas fazem e, escrevo, é a minha forma de ajudar, colocando o diário no ar, para divulgar um pouco mais o trabalho deles, motivando as pessoas a adotarem com responsabilidade e não comprarem bichinhos de estimação. Escrevo e penso na minha segunda adoção, uma companheira para o Dick, antes que ele adquira ciúmes, por ser muito agarrado, filho único, com a rotina de um inglês, já estabelecida como um lord metódico, tendo vida de gente e não de cachorro, tenho que agir rápido senão ele pode acabar igual a Lindona, que não sabia que era cachorro. Talvez seja hora de entrar em nossas vidas a companheira de vida dele, para ele ser um cachorrinho com vida de cão plena.


Posto de segurança

2 comentários:

Brazuzan disse...

hahah, mto legal o crescimento desse caozinho sortudo!!

parabéns pela atitude e mtos anos d felicidade com o cao!!

http://conveg.blogspot.com

t+!

Anônimo disse...

Estou acompanhando o teu trabalho..tb como vc fico olhando o sites na net..tem um ai no Rio wwww.Resgatos.com.br ele esta lindo o Dick bijos em vcs tres..