terça-feira, 18 de dezembro de 2007

Capítulo 10


Uma noite de cachorro


Fim de tarde, friozinho, todo mundo sem comer por conta do nervoso de se esperar a noiva do Dick, e por ver comida demais. Foi combinado com Haroldo, dele sumir na hora da chegada da noiva, ele é muito nervoso e atrapalha.
A noiva chegou a noitinha, entrou sem dar muita bola para o Dick, que ficou doido quando a viu, não latiu, e não se importou porque tinha gente junto. Só viu a noiva, e a cheirou sem parar, ela rosnou para ele, demos um tempo, indo para a sala de jantar, com mais espaço. Ele cheirava ela o tempo todo e ela... rosnava. Dava um chega pra lá de leve nele, e ele saia e voltava, saia e voltava...
Kitty, é gordinha, bem gordinha e parruda, não se parecendo nada com ele, que é um magrelão violento. Ela é doce, amorosa, carinhosa aos extremos, com gente. Beijou todos os estranhos, e quando Olívia sentou-se no chão, ela foi para o seu colo, beijá-la e se aninhar. Parecia uma gatinha, o Garfield do filme, tem o andar igual, lembrava realmente um gato, de tão melosa. Me lembrou a Lindona que era tão meiga. Heloisa contou como foi a sua luta para ela sobreviver e nos sugeriu uma experiência para ver se os dois iam se dar bem.
Adotamos, histéricas, tranquilizados pela promessa de que qualquer coisa, poderíamos devolvê-la para ela continuar tentando um adotante.
Tiramos uma foto para fazer parte de seu álbum de adotantes, e eu me senti fazendo alguma coisa de útil, ao ajudar o trabalho tão lindo de Heloisa. Ela nos trouxe um presente maravilhoso e eu agradeci emocionada.
Logo que ela saiu, o Dick começou a babar sem parar, uma hipersalivação, sem mais nem menos. Olívia o pegou e o levou para o meu quarto, limpou a baba e correu para ligar para a Raquel. Ele parou e voltou a lamber, e a cheirar a Kitty, que dava uns chega pra lá nele. Dei ossos de filhotes para eles, ela adorou, joguei uma manta de lã no chão e ela foi deitar por lá, com o seu osso, enquanto ele nem ligou para o osso, preocupado em cheirá-la.
Raquel tranquilizou Olívia, dizendo que a baba era porque ele havia se apaixonado. Olívia já muito nervosa começou a enjoar, os dois continuavam na mesma, ela se afastando dele e ele teimando em cheirá-la e lambê-la. Ele está apaixonado, por isso baba desesperadamente, reafirmava a Raquel, para mim também, por telefone. Achamos estranho, uma pena a Raquel não estar presente. Estava fazendo falta para nos acalmar. Desligamos e voltamos à vigília dos dois.
Ela acabou o osso e fez um cocô na sala, um cocozão enorme, era bem gordinha, e estava comendo quatro vezes ao dia, tínhamos que reduzir para duas refeições. Levei suas fezes para jogar na privada , no meu banheiro, e guardei um pedaço do jornal sujo para mostrar a ela, e ensinar o lugar certo. Dick de imediato ofereceu seu biscoito de xixi e cocô bonito, o biscoito Maria, que ele ganha quando acerta e foi no meu banheiro, no jornal e fez um xixi finalmente, já que não estava querendo trocar o banheiro do meio por este. Dei a ele um biscoito e ela correu para pegar o dele, ele deixou ela pegar o seu, e ainda ofereceu mais, contente.
Ela descobriu seu canto de brinquedos, no meu quarto e deitou lá, pegou um por um , todos os seus brinquedos, ficou brincando mas não deixou ele chegar perto. Pegou seu osso chiclete pelo meio, e rosnava sem parar para ele.
Ele olhava de cima da minha cama mantendo distância, ela veio para a cama, eu sentada, deitou ao meu lado depois de subir com dificuldade na cama, já que muito gordinha pesava, foi preciso dar várias barrigadas na beira da cama, até conseguir, mas subiu sozinha, e foi direto implicar com ele, que saiu da cama e foi para o canto dos brinquedos, ela saiu atrás, se esborrachando no chão, com os bracinhos abertos, e foi brigar com ele, ele saiu do quarto. Ela voltou para a cama e aproveitei para colocá-la para dormir, num cantinho, junto ao meu travesseiro, entre almofadas e mantas, ela dormiu em um segundo, muito dócil.
O Dick voltou, falei para ele que ela estava dormindo, ele deitou ao lado, num ninho que eu fiz para ele, dividido dela, por um almofadão grande e, dormiu abraçado comigo, que fiquei atravessada na cama servindo de segurança, entre os dois.
Ela acordava e rosnava para ele o tempo todo, isso, até que altas horas, ele saiu da cama e foi para o frio se refugiar debaixo da cama. Deitei no chão para chamá-lo. Ela dormia, ele ia para a cama, ela acordava e, ia implicar com ele, ameaçando morder, ele ia então, para o chão. Uma hora, ele foi para a sala do computador e só voltou para o quarto quando ela dormiu, pegou então, seu osso grandão, e foi para o quarto do Haroldo, na outra ponta da casa, era alta madrugada, e eu já estava exausta, de ficar botando ora um, ora outro, para dormir, e ainda tendo que ficar no meio, pois ela ameaçava uma briga feia. Segui o Dick indo para o quarto do Haroldo também, que a esta altura já estava acordado, muito nervoso. Nos refugiamos lá, fugindo da noiva, que dormia aninhada entre almofadas, tranquila, na minha cama, enquanto o Dick comia nervoso, seu osso chiclete, e Haroldo me atazanava dizendo, que não ia dar certo, que eu destruiria nossa rotina, e o Dick não daria mais atenção a ele, carente, reclamava sem parar, quando eu resolvi então desistir, resolvi pegar cobertores, e dormir com o Dick, no quarto do Haroldo, fechando a Kitty no meu. Pensando nisso, eis que aparece na sombra do corredor, parada à porta do quarto do Haroldo, a noiva, tinha vindo sozinha , atrás de mim e do Dick, que correu para a porta e na penumbra, Haroldo a viu pela primeira e única vez. Olívia levantou nervosa do seu quarto, estava passando mal, com dor de barriga, não havia comido nada, era nervoso. Eu a essa altura estava exausta, pedi então a ela , para dormir com a Kitty, que estava rejeitando o Dick e perseguindo-o pela casa, rosnando e tentando mordê-lo, pegando todas as suas coisas e ele deixando, ele se comportando como um lord apaixonado, tão gentil atrás dela, que não gostou dele, e ela ainda estava me lembrando a Lindona, quando rejeitou todos os namorados que escolhi para ela. Ela só queria seu lugar, suas coisas, seu amor, sua casa e expulsá-lo, constatei horrorizada com o meu pensamento. Descobri nesse momento então, que não poderia ter dois cães, ali naquela noite fria, muito cansada, tive certeza absoluta disso. Eu tive apenas uma filha única e cães, tive vários, mas todos solitários, um de cada vez. Não tinha estrutura para aguentar briga de irmãos, disputas, ciúmes, não sabia como agir e resolvi então desistir. É como ter filhos gêmeos, imagino, uma barra muito pesada, já que trato cães como crianças. Não era para mim.
Olívia aliviada com a minha desistência, ficou com a Kitty no seu quarto, dormiram o resto da noite felizes. E eu fui tentar descansar no que me restava de noite, fechei a porta do quarto da Olívia, e levei o Dick para o meu quarto, ele voltou para o hall do quarto da Olívia e chorou sem parar junto a porta, parecia saber da minha decisão. Seria um solitário. Amado apenas por gente e Haroldo para completar a noite disse: "O sonho acabou"
Não deu certo, ela não tinha gostado dele, como a Lindona, que recusava amizade com todos os cachorros, que não fosse o Encrenca que ela tinha escolhido. A fêmea é quem escolhe e são muito seletas, não são como galinhas, tem que flertar, namorar, e até cruzarem, é um sufoco. Essa não iria cruzar mas selecionava mesmo assim, a amizade. Não houve jeito. Engoli a minha frustração e consegui então junto com o Dick, dormir um pouquinho.
Ele depois de chorar um bocado, se resignou e esqueceu que ela estava na casa.
De manhã acordou como sempre dentro de sua rotina e foi encontrar o Haroldo que queria que eu acordasse ela, para levá-la ao quintal, que era onde ela estava acostumada a ir no banheiro, e ele me estimulou a acabar o quanto antes com aquela experiência dantesca, devolvendo-a. Liguei para Heloisa, que se preparava para ir ao Rio, levar um cachorrinho para uma feira de adoção e, aproveitaria para levá-la também, quem sabe alguém gostaria de adotá-la por lá. Ela é de salão, muito doce com gente, como a Lindona, não é para dividir amor, com dois cães em uma mesma casa, ela é típica para uma casa onde ela reinará absoluta. Ela adorou o conforto de uma cama de casal com almofadas e mantas de lã pura. Ela era de luxo. Como um bebê muito doce. Contratei um táxi para nos levar à casa da Heloisa, que está abrigando mais ou menos vinte cachorros, eles estão sendo preparados para adoção. Cheguei lá, e lá estava Heloisa com vários cachorrinhos pegando sol, e uma pretinha em seu colo, que fica pronta para adoção, na próxima semana (está no pós operatório da esterilização). É magrela de dois meses, achada com a irmã perto da catedral, em Petrópolis, era bem mais parecida com o Dick, o magrelão. Heloisa acha que com essa idade, dois meses, ela não rejeita outro cão. Não falei nada, mas já foi decidido, Haroldo e Olívia não me apoiaram e eu sozinha, não aguentei a barra. Encarei corajosamente o meu fracasso. Preciso reconhecer os meus limites, se fosse à algum tempo, eu iria encarar sozinha sem respeitar os meus limites, e depois adoeceria como sempre fiz. Já estou aceitando minhas limitações, deve ser a análise.
Dick será um lord solteirão, o mais amado, com uma vida digna de Rei. Irá acompanhar a levada cachorrinha da vizinha, que parece que se chama Fifi, um bassetzinho que ele adora espiar pela janela do quarto do Haroldo, como a Lindona espiava o Encreca, e será totalmente mimado, porque isso, eu sei fazer muito bem. Com alívio me parabenizei por aceitar essa experiência com sabedoria, ultrapassando o fracasso, pensei na frase do Woody Alenn: "Faça Deus rir, faça planos!" e fiquei pensando na pequenininha pretinha...

O Solteirão

3 comentários:

Anônimo disse...

Nossa amei seu fotolog de uma sensibilidade linda, eu sou uma leitora ávida e li todos os capítulos hj a noite, adoro animais e com um trabalho mas solitário já resgatei e doei muitos animaizinhos abandonados, linda a sua iniciativa, mas acho realmente que com tanto carinho e tanto espaço deveria ter mais irmãos para o Lord Dick, moro em um apertamento e tenho 3 filhinhos de quatro pata que amo muito e são super felizes. um grande beijo
Paty
http://mamaeamor.nafoto.net
Http://nenenspires.nafoto.net

Anônimo disse...

Olá, Liscia!
Acabei de ler todos os capítulos e estou ávida por ler outros mais!
Parabéns pela iniciativa e pelo amor que você e sua família dedica aos animais, em especial, o Dick!
Senti tanto amor na sua narrativa, que não conseguia parar de ler! Parece até que já conheço você, o Harodo, a Olívia,a Raquel e o Dick!
Parabéns e sáude, amiga!

Anônimo disse...

Puxa que lindo!!Estou amando essa historia ,o Dick tem uma cara de sapeca !!Tenho 6 animais no meu qtal e perdi um agora (o sétimo,Negão) que me dá mta saudade,mas sou bastante feliz com a minha escolha de dedicar todo ou qse todo meu amor para meus amiguinhos peludos, vou continuar lendo,Adorei,mto obrigada por proporcionar uma leitura tão sensivel.beijos